Prédios antigos estão mais propensos a serem atingidos pelas chamas Edu Garcia/R7 – 11.07.2022

Incêndios como o registrado na noite de domingo (10), no centro de São Paulo, em um edifício que não possuía alvará do Corpo de Bombeiros, jogam luz sobre a necessidade de se fiscalizar os imóveis e mantê-los regularizados e seguros.

Especialistas ouvidos pelo R7 apontam que, por uma série de razões, prédios antigos, como o das imediações da rua 25 de março, estão mais propensos a serem atingidos pelas chamas.

Essas edificações, como comenta Alberto Luiz Francato, engenheiro civil e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), foram projetadas e construídas sob normas técnicas de décadas passadas – “na ocasião, não eram previstas determinadas condições de segurança e que a tecnologia trouxe com o tempo”.

Dessa forma, as instalações elétricas mais antigas não foram pensadas em materiais com baixo potencial de combustibilidade, podendo gerar sobrecarga em pontos de tomadas elétricas pela ampliação da demanda por eletrointensivos (consumidores de energia em grande quantidade).

Francato explica que outro fator de influência se dá porque alguns edifícios da região central paulistana possuem maiores taxas de ocupação, ou até a ocupação de edifícios abandonados, com atividades com risco de incêndio, como a preparação de alimentos em fogareiros, improvisações de sistemas de aquecimento de água, entre outros.

De modo geral, o problema não está relacionado aos materiais de construção da estrutura do prédio, mas às instalações elétricas e a natureza do uso da edificação, explica Antonio Fernando Berto, engenheiro civil e gerente técnico do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

O início de um foco de incêndio pode se dar, cita Berto, de instalações precárias, equipamentos esquecidos ligados, excesso de carga de combustível, uso de materiais de revestimento e até divisórias de madeira, que podem contribuir para as chamas avançarem.

Fiscalização é insuficiente, e atenção de todos deve ser redobrada

Uma unanimidade entre os engenheiros ouvidos pela reportagem é que, em uma cidade com o tamanho de São Paulo, a fiscalização não é suficiente, seja por não abranger todos os imóveis ou por ser superficial.

“É difícil, em uma cidade como São Paulo, investigar todas as possibilidades”, diz Antonio Fernando Berto. Dessa maneira, na avaliação dos especialistas, os proprietários devem redobrar a atenção perante os problemas nos edifícios.

É deles a necessidade de manter a vistoria dos bombeiros em dia, comenta Berto: “A cada vencimento, têm que solicitar novas vistorias. Eles são ocasionalmente vistoriados, ou deveriam ser, para a renovação do documento.”

Com a quantidade de edifícios em grandes cidades e a impossibilidade de se vistoriar todos eles, a população deve ser mais participativa, pondera Valdir Pignatta e Silva, professor-doutor da escola politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

Bombeiros combatem incêndio em prédio próximo à rua 25 de março

Bombeiros combatem incêndio em prédio próximo à rua 25 de março Edu Garcia/R7 – 11.07.2022

“Em outros países, a cultura de segurança contra incêndio é muito mais desenvolvida. Já nós ficamos nas mãos dos bombeiros, que nem sempre têm condições [de vistoriar todas as edificações]”, afirma Pignatta e Silva.

Entre medidas efetivas de se minimizar situações como as registradas no centro de São Paulo, Alberto Francato cita campanhas de educação e conscientização do risco de incêndios, fiscalização efetiva e periódica das edificações por parte das autoridades e reformas dos prédios para oferecer as mesmas condições de segurança das novas edificações.

“É claro que os edifícios necessitam de apresentar o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), expedido pelo corpo de bombeiros, para serem utilizados, mas muitas edificações estão em situação irregular”, aponta Francato.

Se não é possível vistoriar com a frequência desejada, Antonio Berto sugere sanções mais rigorosas nos casos de irregularidades.

“Os bombeiros poderiam escolher em um endereço, como a 25 de março, 10 ou 12 edifícios, e que se atribuísse responsabilidade e punições para servir de exemplo. Se fazem uma vistoria rigorosa, em vez de fazer uma vistoria superficial, que são visuais e por amostragem como está na regulamentação, vão pegar uma série de irregularidades que poderiam ser denunciadas. É uma saída possível, mas não é feito”, diz ele.

Para reforçar a importância de que a população procure por mais informações sobre os locais que frequenta, Pignatta e Silva oferece um exemplo:

“A pessoa, ao entrar num hotel, tem que olhar onde fica a saída de emergência. Imagine que começa um incêndio, você abre a porta do seu quarto e não sabe nem se correrá para direita ou esquerda. Bombeiros não têm como cuidar de tudo ao mesmo tempo, São Paulo é muito grande. Nós também devemos participar.”

By Evelyn

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