Pratos tradicionais levam cultura dos países para os quatro cantos do mundo Freepik/Montagem/R7

Muitos governos usam grandes quantias de dinheiro para mostrar ao mundo um pouco da  cultura local, com o objetivo de atrair turistas e consolidar suas marcas nacionais no mundo. Música, cinema e esportes são armas institucionais conhecidas, mas a diplomacia da gastronomia também tem seu espaço.

A cozinha pode ser uma janela de apresentação de um país para os demais. Quem não conhece a pizza italiana, o queijo francês, a vodka russa ou até o sashimi japoneses, o famoso peixe cru? Todos estes pratos e ingredientes representam uma nação aos quatro cantos do planeta.

O professor de relações internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas) James Onnig explica que a gastronomia pode ser um exemplo de soft power — quando um país exerce alguma influência em outros Estados sem o uso de força bélica.

“A diplomacia da gastronomia é uma forma de soft power que os países usam para vender a imagem do país, passar a imagem do país de uma forma mais delicada, suave, representativa. Como isso, eles atraem a atenção dos outros países e estabelecem relações mais próximas”, conta Onnig ao R7.

De acordo com o professor, a diplomacia gastronômica é explorada a partir de uma grande valorização dos pratos ou ingredientes regionais de um país. Este trabalho de imagem, realizado por governos ao lado de empresas, pode trazer benefícios para diferentes setores da nação.

“Este tipo de diplomacia acaba trazendo uma coisa muito interessante que, na verdade, dinamiza alguns setores, além da exportação de produtos alimentares, o turismo, as viagens, tudo isso acaba sendo valorizado.”

Os pratos tradicionais costumam ser utilizados como peça de publicidade de sites de viagens institucionais dos países. Alguns pratos, inclusive, são alvo de briga entre povos que buscam reconhecer a autoria de uma receita, como diz o coordenador do curso de gastronomia da Universidade Estácio de Sá, Helio Takeda.

“O ceviche, orginalmente do Peru, é disputado por outros países, como o Chile. Outra produção é o padvola, um doce à base de merengue, que tanto a Austrália como a Nova Zelândia reivindicam sua criação”, explica Takeda ao R7. “Na verdade, tudo se adapta para usar os produtos sazonais de cada país”.

Há também os casos em que um prato ou uma cozinha ganha tanto renome que as reproduções pelo mundo acabam sendo bem diferentes. Um exemplo são os hot rolls, tradicionalmente consumidos nos restaurantes de comida japonesa no Brasil, mas que não têm origem no Japão. O governo de Tóquio chegou a organizar maneiras de classificar locais em que a comida traz traços da cozinha nacional.

“Ao longo do tempo, todos começaram a pegar ideias de todas as cozinhas e fazer um mix entre elas. Mas precisamos ter em mente que a comida japonesa não é só peixe cru, existem outras coisas envolvidas. Agora temos aos poucos um certificado do Ministério da Agricultura do Japão que é dado aos restaurantes tradicionais aqui no Brasil que têm comida japonesa”, destaca o coordenador de gastronomia da Estácio.

 

Brasil também faz uso da diplomacia da gastronomia

Feijoada é um dos pratos brasileiros mais conhecidos no mundo

Feijoada é um dos pratos brasileiros mais conhecidos no mundo Sergio Moraes/Reuters – 24.3.2016

 

Se o Brasil é muito lembrado pelo samba e futebol, a gastronomia do país não fica muito para trás. A tradicional feijoada é conhecida mundialmente, assim como a cachaça e o café, historicamente ligados à cultura nacional.

“Existia todo um esforço brasileiro para colocar a cachaça no mercado internacional”, ressalta Onnig. “O guaraná também tem um esforço enorme para isso, o café é outro conhecido por trazer essa imagem brasileira histórica”.

Diferentemente de outras formas diplomáticas, a gastronomia não pode parar guerras por si só, mas o professor de Facamp aposta que pode facilitar as negociações entre governos.

“A comida ganha as pessoas rapidamente em uma mesa de negociações. Acho que os países fazem isso indiretamente quanto têm uma reunião importante, serve um prato bom, todo mundo fica mais feliz, talvez aí facilite as negociações”, conclui Onnig.

By Evelyn

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