A família real britânica conseguiu exaltar sua importância nacional diante dos milhões de espectadores pelo mundo e das milhares de pessoas que lotaram as proximidades do Palácio de Buckingham para celebrar os 70 anos do reinado de Elizabeth 2ª, o chamado Jubileu de Platina. Como um grande símbolo da realeza, a rainha se mantém querida pelos súditos, mas sua sucessão expõe os desafios para manter a monarquia no Reino Unido.
A especialista Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM, explica que a família real tem relevância cultural e identitária, não só histórica e política.
“Para os britânicos, a monarquia é um elemento importante na formação de sua identidade, assim como o samba é um elemento que faz parte da identidade nacional brasileira”, aponta a professora Carolina.
“Essa relação ultrapassa uma percepção política. A monarquia é um elemento importante que assegura a estabilidade e a continuidade em um mundo cada vez mais permeado por incertezas, é uma referência de estabilidade para o povo britânico.”
Para além de sua natureza conservadora e de reforçar os valores mais tradicionais da sociedade, a família real vem fazendo um grande esforço para tentar modernizar sua imagem.
Pavese aponta que a sociedade está se tornando mais intolerante em relação a comportamentos autoritários, e repensa o papel histórico que o Reino Unido tem no mundo em relação a sua responsabilidade pela desigualdade entre os países.
“É um desafio muito grande para a coroa dar uma resposta à altura das questões atuais da população sem descaracterizar sua essência tradicional e conservadora, e isso tende a se acentuar nos anos futuros”, explica a especialista.
De acordo com a YouGov, agência pública de pesquisas, 62% dos britânicos acham que a monarquia deveria continuar no futuro. Entretanto, quando a opinião dos jovens entre 18 e 24 anos é analisada, a porcentagem cai para 33%.
Analisando os dados, a professora da ESPM ressalta uma grande ameaça para a família real: “no futuro, à medida que o grupo jovem for se tornando mai velho e mais significativo na população, se não houver uma mudança de opinião, teremos uma mudança de estatística também, onde a maioria irá se opor à existência da monarquia.”
Em meio aos esforços da família real para se aproximar dos súditos, segurando o peso dos escândalos recentes, que envolvem uma acusação de abuso sexual contra o príncipe Andrew, terceiro filho da rainha, e também uma acusação de racismo por parte de um dos membros da realeza contra o filho de Harry e Meghan, o Jubileu de Platina ocorre em um momento oportuno para o país.
Para muitos, a celebração veio como um grande respiro durante o fim do isolamento social por causa da pandemia da Covid-19, à maior taxa de inflação em 30 anos e à crise de popularidade do primeiro-ministro Boris Johnson, envolvido em escândalos relacionados às festas na residência oficial durante período de lockdown no país.
O príncipe William, segundo na linha sucessão ao trono britânico, e sua esposa Kate Middleton, ocupam um papel importante na estratégia da família real para se aproximar de seus súditos e manter a popularidade na monarquia entre os britânicos.
Para Pavese, “eles são as figuras ideais no esforço para popularizar a coroa e para aproximar a realeza sobretudo do público mais jovem. Eles tentam passar a imagem de que são pessoas comuns, apesar de serem da realeza.”
Recentemente, William quebrou um protocolo ao abraçar um idoso que ficou emocionado ao conhecer o futuro rei. Em 2016, o príncipe participou de uma edição da revista “Attitude” e se tornou o primeiro membro da família a aparecer na capa de uma revista voltada ao público LGBT.
Na contramão de William e Kate, o príncipe Harry e sua esposa Meghan Markle deixaram de representar a monarquia britânica em 2020 e se tornaram impopulares entre a população.
Para Astrid Beatriz Bodstein, historiadora e criadora do perfil @royaltyandprotocol, Meghan Markle não quis se adaptar à realeza, por isso o casal decidiu se afastar.
“O mais grave na situação foram as mentiras que ela contou, como ao dizer que nunca teve ajuda para entender o mecanismo de funcionamento da família. Existem provas de que isso é uma grande falácia, a própria rainha determinou que funcionários de sua confiança a ajudassem a exercer seu papel de alteza real”, explica a especialista.
Dados da YouGov revelam que 32% dos britânicos têm uma opinião positiva sobre o príncipe. A aprovação de Meghan é ainda menor, com apenas 23%.
A professora Carolina Pavese diz que “eles são percebidos como traidores dos britânicos. Quando abandonaram a coroa, abandonaram também o povo do país.”