33% na população paulista adulta possui incidência da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono Freepik

O Projeto Respira é um trabalho de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia  da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), realizado pela estudante Maria Isabel Triches, com orientação de Tatiana de Oliveira Sato e coorientação de Renata Gonçalves Mendes.

O objetivo principal do projeto é avaliar a sonolência diurna, a predisposição da apneia obstrutiva do sono e a qualidade de vida de professores universitários com dedicação exclusiva ao ensino público brasileiro. Em andamento, o estudo também irá avaliar os aspectos psicossociais do trabalho do docente, estimar o nível de atividade física, verificar o tempo gasto na postura sentada e o cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal).

Segundo Triches, o ambiente acadêmico é caracterizado pela permanente busca por produtividade. “Esse cenário aumenta muito o risco de trabalho excessivo, podendo comprometer a qualidade de vida e saúde dos professores universitários”, comenta. 

Para ela, o Projeto Respira também é um esforço no sentido de proporcionar maior visibilidade a saúde dos docentes de instituições públicas de ensino superior e de aprofundar as discussões sobre o trabalho dessa categoria profissional, que exige muito das suas capacidades físicas, intelectuais e emocionais. “As diversas atividades dos docentes podem levar a uma rotina exaustiva de trabalho e indisposição, levando ao sedentarismo, estresse e problemas de saúde. Aliado a isso, a valorização do aprimoramento intelectual faz com que os docentes se dediquem cada vez mais às atividades acadêmicas em detrimento das atividades físicas, podendo levar ao adoecimento”, explica a doutoranda.

A pesquisa expõe que o sedentarismo, além de ser prejudicial à saúde dos docentes, pode contribuir para a obesidade, que se destaca entre os fatores predisponentes da SAOS (Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono). A manifestação clássica da SAOS é a sonolência diurna excessiva.

De acordo com a pesquisadora, o estudo recente aponta que um em cada três professores apresentam sonolência diurna excessiva, a qual foi associada a menor qualidade de vida. Além disso, em estudos de 2017 e 2021, “se observou a prática de atividade física abaixo do nível recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e altas taxas de sobrepeso respectivamente. Contudo, pesquisas com uma amostra maior de docentes e não restritas ao público de uma única universidade foram recomendadas, fomentando a realização da pesquisa”, conclui Triches.

No Brasil, um estudo epidemiológico realizado em 2010 pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) revelou a elevada incidência da SAOS em 33% na população paulista adulta.

Já outro estudo realizado por pesquisadores estrangeiros, estima que mais de 85% dos casos de apneia obstrutiva do sono permanecem não detectados. Todos esses dados despertaram o interesse pela realização da pesquisa. Triches ainda explica que, como há uma alta porcentagem dos casos de apneia obstrutiva, o resultado individual elaborado aos docentes que participarem da pesquisa deve auxiliar aqueles com a predisposição, já que será recomendado o acompanhamento com profissional da saúde. “Também, será enviado o relatório final da pesquisa para todos os participantes, após a publicação dos resultados”, acrescenta.

Podem participar professores e professoras, de qualquer região do país, inseridos em instituição pública de ensino superior com contrato de trabalho de 40 horas semanais em regime de dedicação exclusiva. Os interessados devem preencher um formulário eletrônico, pela internet.

A importância do sono e do descanso

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Gustavo Corrêa realizou o mestrado sobre a síndrome de burnout em professores, no Instituto do Sono. Ele esclarece que a falta de sono tem uma ação sistêmica no organismo com impactos que vão de alterações biológicas a comportamentais. “Das alterações biológicas, vale destacar o aumento do estresse, a queda do sistema imunológico e a regulação de diversos hormônios. Do ponto de vista comportamental podemos citar o aumento do apetite à sonolência diurna e diminuição do desempenho tanto física quanto intelectual”, diz.

Para Corrêa, a longo prazo, não dormir bem pode aumentar o risco de doenças crônicas. “Já está muito bem documentada a relação entre falta de sono e doenças crônicas. Essas doenças vão desde alterações metabólicas como a hipertensão e diabetes, até de saúde mental como a depressão e o mal de Alzheimer”, diz.

Ainda de acordo com o especialista, a falta de sono pode gerar impacto negativo não apenas na saúde de uma forma geral, mas pode interferir nos relacionamentos sociais e familiares, assim como reduzir a produtividade profissional e atlética. 

Segundo Corrêa, dentre as variáveis que interferem no clima da sala de aula, está o comportamento dos professores. “Educadores privados de sono tendem a estarem mais estressados, impactando a qualidade de aprendizado dos estudantes e o clima organizacional da escola”, esclarece. Ele explica que, cada indivíduo tem um relógio interno que dita, dentre outras coisas, o horário em que o corpo está mais produtivo e menos produtivo, “chamamos isso na ciência de cronótipo”, explica o médico. “No ambiente corporativo isso já foi percebido, e é cada vez mais comum os horários de entrada e saída das empresas terem uma flexibilidade. Já no ambiente acadêmico, os horários trabalhados pelos docentes, são geralmente fixos, com aulas iniciadas muito cedo. Os professores com essa condição biológica podem sofrer mais, tanto de doenças mentais, como metabólicas”, conclui.

*Estagiário do R7 sob supervisão de Karla Dunder

 

By Evelyn

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