Guia dá orientações aos visitantes durante passeio no Complexo da Capivara, em Capitólio Guilherme Padin/R7

A cidade de Capitólio viveu, nos últimos meses, o choque com o acidente que vitimou dez pessoas em janeiro e afetou diretamente o turismo, principal atividade econômica da região. Causada pela queda abrupta do número de visitantes, a crise começou justamente no verão, período de alta temporada por ali.

Embora a tragédia tenha sido um desastre natural, em somente um entre diversos atrativos da cidade, toda a região sentiu o impacto do momento de instabilidade, e se mobilizou para recuperar o movimento de visitantes, portanto, também, a saúde financeira de quem vive ali.

Para além dos passeios nos cânions, onde ocorreu a mudança mais necessária devido ao incidente de janeiro, o poder público e a iniciativa privada buscaram devolver aos viajantes a segurança de praticar o turismo com tranquilidade e mais proteção.

É verdade, cabe ressaltar, que os demais passeios já eram realizados com os cuidados necessários. “O acidente assustou muito todo mundo. Nunca tivemos problemas como esse”, relata ao R7 o prefeito Cristiano Geraldo da Silva (PP), que ressalta a preocupação com segurança antes antes do acidente, sobretudo após 2014:

“Estamos sempre buscando o aprimoramento em relação à responsabilidade e a segurança com os passeios, isso é um fato.”

Como exemplo, Silva cita a profissionalização em massa de mais de 400 marinheiros em 2019, a partir de cursos da Marinha, para as atividades de turismo náutico.

Com a insegurança dos potenciais visitantes e a desinformação gerada pelo acidente – à época, se divulgou que todas as atrações da cidade estavam fechadas -, ainda que as atrações não apresentassem risco de acidente, o entendimento foi de que era o momento para se investir em um turismo mais seguro, e, nesse sentido, no reposicionamento da imagem da cidade e de suas vizinhas para o público.

“O desafio tem sido esse: mostrar que trabalhamos com responsabilidade, que buscamos a sustentabilidade do meio ambiente, da economia e do turismo para que se sintam seguros ao fazer os passeios”, afirma o prefeito.

Mudanças e ações

Decreto municipal sobre passeios nos cânions e obras futuras

O decreto municipal nº 94, de 23 de março, impôs novas regras e medidas para a reabertura dos passeios com embarcações nos cânions do Lago de Furnas, onde ocorreu o acidente nos primeiros dias do ano.

A atração passou por uma interrupção de pouco mais de dois meses – entre janeiro e o fim de março – até que, findado o estudo de identificação de riscos geológicos na região dos cânions, as medidas fossem definidas e entrassem em vigor.

O decreto prevê a avaliação de geólogos diária das condições das rochas, o uso de equipamentos como o colete salva-vidas e o capacete nos locais próximos aos chamados ‘paredões’, a assinatura de um termo de anuência com as regras expressas sobre a visitação e paralisação do passeio em caso de chuvas ou deslocamento dos blocos rochosos.

Antes de entrada nos cânions, instrutores orientam sobre uso de equipamentos de segurança

Antes de entrada nos cânions, instrutores orientam sobre uso de equipamentos de segurança Guilherme Padin/R7

A entrada é controlada e os locais de risco possuem boias de demarcação indicando o limite para as embarcações. Para além da elaboração do Novo Ordenamento de Turismo Náutico, em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), os fiscais náuticos passaram por um novo curso de preparação, ministrado pela Marinha.

A prefeitura planeja, ainda, uma obra de contenção dos cinco pontos que apresentam risco de queda de rochas. As telas de aço devem ser construídas até o fim de 2023 – até a conclusão das obras, as medidas do decreto seguirão valendo.

Reviva Capitólio

Lançado em fevereiro, a fim de fortalecer e fomentar o turismo responsável na região, o plano “Reviva Capitólio – Viva o Mar de Minas” engloba todas as ações realizadas na região, incluindo as relacionadas ao passeio nos cânions, e funciona a partir de quatro eixos estratégicos: diagnóstico da tragédia; ordenamento de uso e ocupação dos atrativos; capacitação, formação e informação turística; comunicação e marketing.

O projeto contou com o investimento de R$ 5 milhões, destinados a 80 ações.

Entre elas, a regulamentação dos passeios nos cânions e nas águas, a capacitação dos profissionais que ali atuam, a divulgação de informações de segurança para os turistas e profissionais e o aumento do efetivo de fiscalização.

“São várias ações integradas, isso é fundamental. Estamos muito juntos, com os municípios vizinhos. A regionalização está mais fortalecida ainda, porque a região toda sentiu um pouco do que sofremos”, destaca Lucas Arantes, secretário de turismo de Capitólio.

Rede Integrada de Proteção ao Turismo

No mês passado, o governo de Minas Gerais estendeu a Rede Integrada de Proteção ao Turismo, programa já existente em outras regiões do estado, para Capitólio e as vizinhas São João Batista do Glória e São José da Barra. O projeto prevê o investimento de R$ 2 milhões em infraestrutura nas três cidades.

Incorporada, neste caso, ao programa ‘Reviva Capitólio’, a rede tem como objetivo de fortalecer o turismo seguro na região.

A decisão, anunciada em 24 de junho, também se deu por conta das consequências da tragédia no início do ano. “Com relação aos atrativos, sofremos muito. Porque, na mídia e nas redes sociais, se comenta que Capitólio estava fechada. E, na verdade, era só um ponto turístico”, relembra Lucas Arantes, secretário de turismo de Capitólio.

Seminário de turismo de aventura

Dois meses após o acidente, a cidade recebeu um seminário realizado pela Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), em parceria com o Sebrae.

Gratuito, o evento ‘Abeta Conecta’ foi voltado para os profissionais do turismo, a fim de integrar e capacitar o setor na região.

O evento ocorreu ao longo de três dias com diferentes temáticas, da segurança nas atrações ao marketing e boas práticas ambientais.

Outras atrações

Além dos passeios nos cânions, os responsáveis pelas atrações de turismo de aventura também seguem protocolos de segurança para os visitantes e os profissionais que ali trabalham.

As atrações, de modo geral, já adotavam medidas de segurança mesmo antes da tragédia do início do ano, relata Adriano Leonel, proprietário de uma empresa que realiza passeios no parque Canela de Ema.

“As medidas incluíam treinamento de resgate e primeiros socorros, disposição de salva-vidas nas cachoeiras e medidas de alerta quanto a cabeças d’água (aumento rápido do nível dos rios)”, comenta Leonel.

No Complexo da Capivara, por exemplo, como explica o guia turístico João Lucas, os profissionais recebem cursos de primeiros socorros, além de haver o monitoramento constante da chuva e do nível das águas.

A empresa responsável pelos passeios com trilhas pelas cachoeiras e piscinas naturais em que João trabalha está investindo em equipamentos de rádios profissionais com alcance de até 30 km, já que a nascente do rio se localiza a 8 km do complexo.

“Em caso de chuva forte, o fluxo maior de água alcança em nosso ponto da cachoeira da capivara em, no mínimo, 50 minutos. Os guias que ficam em pontos estratégicos e solicitam aos nossos visitantes que utilizem as nossas saídas de emergência para retirada de todos por terra firme e seca”, aponta João.

No Canela de Ema, por exemplo, Adriano Leonel comenta que há o monitoramento diário das condições climáticas e do nível do rio nos trajetos por água: “A qualquer sinal de alteração climática, fechamos parte do atrativo para garantir a segurança de todos”.

By Evelyn

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