Ferrero. "Portugal é um país latino atípico para o consumo de chocolate"

Conhecida pelos chocolates, a marca Ferrero tem vindo a atravessar gerações e Portugal não é exceção. Aliás, no que ao consumo de chocolate diz respeito, o consumidor português é “atento” e “preza pela qualidade”, nas palavras de Franco Martino, diretor de comunicação do Grupo Ferrero. 

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Franco Martino revelou que há mesmo produtos da Ferrero que atingem os “níveis de consumo per capita mais elevados do mundo em Portugal”. 

O diretor de comunicação da marca assume que a sustentabilidade é uma preocupação e conta os progressos que a empresa tem feito nesse segmento. 

Relativamente às cópias que vão surgindo no mercado, Franco Martino remete essas questões para a “economia especulativa” e não tem dúvidas: “Os nossos produtos continuarão a ser icónicos, seja qual for o ano, geração após geração”.

A sustentabilidade é uma prioridade para o grupo Ferrero? Quais são os objetivos a curto prazo?

A sustentabilidade é uma prioridade para o Grupo Ferrero e não é só de agora. Os progressos que temos vindo a registar e que estão documentados no 14.º Relatório de Sustentabilidade do Grupo, mostram os avanços distribuídos por quatro pilares: proteção do ambiente, abastecimento sustentável, promoção do consumo responsável e capacitação das pessoas. Mesmo depois do último ano ter sido extremamente desafiador, não só conseguimos crescer, como também progredimos significativamente em várias das nossas metas de sustentabilidade e, nalguns casos, superá-las.

Vamos continuar a realizar auditorias e a desenvolver planos de gestão da água nos nossos locais de produção mais significativos

Os objetivos passam por continuar a gerir e reduzir o nosso impacto ambiental, aumentando a eficiência ambiental nas nossas operações e na cadeia de abastecimento, reduzindo as emissões e o consumo de água, e aumentando a circularidade na nossa produção e embalagem. Entre alguns exemplos, podemos referir que em dezembro de 2020, estabelecemos as nossas metas de carbono baseadas na ciência para 2030: reduzir em 50% as emissões absolutas do scope 1 e 2 a partir de uma linha de base de 2018, reduzir em 43% a intensidade das emissões do scope 1, 2 e 3 a partir da mesma linha de base, trabalhando com fornecedores para identificar soluções.

Vamos continuar a realizar auditorias e a desenvolver planos de gestão da água nos nossos locais de produção mais significativos, bem como trabalhar para que a taxa de recuperação de resíduos continue a aumentar através de uma melhor separação e do trabalho com fornecedores. Atualmente, 11 das nossas unidades de produção atingiram uma taxa de recuperação de resíduos superior a 99%, entre outros.

O Grupo Ferrero lançou uma nova embalagem com um design ecológico para a sua linha de chocolates Ferrero Rocher. (…) Mais fácil de reciclar e que reduz a pegada de carbono em 30% face às caixas anteriores

Outra nota importante é o facto de que 92% da eletricidade global da empresa agora provém de energias renováveis, tratando-se de um aumento face aos 84% registados no ano passado. No que diz respeito aos ingredientes, estamos no caminho de ter todos totalmente certificados e atualmente contamos com resultados já muito avançados, como é o caso do óleo de palma (100% certificado), 96% no caso do cacau e já ultrapassámos a barreira dos 90% em vários outros ingredientes relevantes.

Tratando-se de uma marca que trabalha com chocolate, é um desafio encontrar alternativas para embalar os produtos que sejam mais sustentáveis? 

Mais do que um desafio, temos vindo a conseguir aplicar diversas estratégias com resultados significativos e poupanças notórias. Por exemplo, o Grupo Ferrero lançou uma nova embalagem com um design ecológico para a sua linha de chocolates Ferrero Rocher. Trata-se de uma caixa totalmente em polipropileno (PP), mais fácil de reciclar e que reduz a pegada de carbono em 30% face às caixas anteriores. Desde que introduzimos estas embalagens em setembro de 2021, foram usadas aproximadamente menos 2.000 toneladas de plástico, resultante de um uso de cerca de menos 40% de plásticos nas embalagens de 16 e 30 unidades. 

Assim que a implementação destas embalagens ecológicas esteja finalizada, em todo o portefólio Ferrero Rocher, estima-se que se evite o uso desnecessário de cerca de 10.000 toneladas de plástico. 

Estamos também comprometidos que 100% das nossas embalagens sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025. Ainda sobre o packaging, utilizamos um processo interno de eco-design para a racionalização e criação de todas as nossas novas embalagens e a nossa adesão à fundação Ellen MacArthur permite-nos trabalhar numa plataforma open source, onde todas as evoluções tecnológicas são disponibilizadas para a melhoria coletiva em termos de circularidade da embalagem.

Como é que a Ferrero olha para o mercado português? A perspetiva de investimento tem tendência crescente?

A Ferrero é a líder indiscutível do setor no mercado português. Isto obriga-nos a manter uma política constante de inovação nas propostas para os consumidores e para o mercado e a continuar a apoiar as nossas marcas históricas. Continuamos a aplicar os princípios cardeais da nossa filosofia, assentes na estimulação da procura, o que obviamente envolve grandes investimentos em todas as variáveis ​​do negócio, imagem e reputação corporativa.

Já do ponto de vista global, encerrámos o exercício financeiro com um volume de negócios consolidado de 14 mil milhões de euros, trata-se de um aumento de 10,4% face ao mesmo período do ano anterior. O nosso número de colaboradores cresceu de 38.767 pessoas, a 31 de agosto de 2021, para 41.441 a 31 de agosto de 2022, além de termos consolidado 109 empresas e 32 fábricas em todo o mundo, vendendo diretamente e através de distribuidores em mais de 170 países.

82% do volume total de cacau foi obtido de grupos de agricultores apoiados pelo Grupo Ferrero© Ferrero  

A sustentabilidade começa desde logo na escolha dos produtores? Como é que a Ferrero se destaca nesta área 

Em 2021/22, o programa Valores Agrícolas Ferrero (FFV) ajudou a fornecer orientação individualizada a 32% dos agricultores de cacau em termos de planeamento agrícola e empresarial, enquanto 155.000 agricultores de cacau participaram em formações de grupo. Além disso, conseguimos a rastreabilidade até ao nível da exploração agrícola em mais de 96% do volume de abastecimento de cacau. Outro dado importante é que 82% do volume total de cacau foi obtido de grupos de agricultores dedicados apoiados pelo Grupo Ferrero. Em relação a todas as avelãs fornecidas, o Grupo consegue rastrear 79% do volume total, apesar das complexidades sistémicas na cadeia de abastecimento.

Nota ainda para a conclusão do plano de quatro anos da Iniciativa Cacau e Floresta (CFI) da Ferrero, com a maioria das metas alcançadas ou até superadas, incluindo mais de 170.000 agricultores inscritos no Programa de Cacau da Ferrero, dos quais 161.000 (95%) foram mapeados e monitorizados em 2021/22, excedendo a meta inicial de 153.000.

E por falar num ingrediente ‘sensível’ como o óleo de palma, que é muitas vezes injustamente atacado, o compromisso da Ferrero passa por alcançar a plena sustentabilidade ambiental de um ingrediente essencial e não substituível, inclusive por razões ecológicas, de toda a indústria alimentar a nível mundial.

Portugal é um país latino atípico para o consumo de chocolate. (…) Alguns dos nossos produtos atingem os níveis de consumo per capita mais elevados do mundo em Portugal

É de sublinhar que o Grupo Ferrero está comprometido em apoiar e melhorar o abastecimento sustentável dos seus ingredientes, além de partilhar conhecimento ao longo de toda a cadeia de valor. 

Tendo por base a experiência da Ferrero nos vários países onde tem atividade, como é o consumo de chocolate em Portugal? 

Portugal é um país latino atípico para o consumo de chocolate, com consumo per capita mais próximo dos países da Europa Central. Tal deve-se em parte à cultura portuguesa, influenciada quer pela presença histórica dos anglo-saxões, quer pela elevada percentagem de emigrantes e emigrantes regressados ​​de países onde o consumo de produtos à base de chocolate é particularmente elevado.

Alguns dos nossos produtos atingem os níveis de consumo per capita mais elevados do mundo em Portugal.

Como descreve o consumidor português? 

Um consumidor atento que preza pela qualidade e pelo trabalho dedicado. O nosso sucesso em Portugal deve-se também à atenção dedicada ao mercado e ao consumidor português.

Não temos dúvidas de que os nossos produtos continuarão a ser icónicos. (…) Aqueles que se dedicam a produzir e comercializar ‘pseudo-réplicas’ de produtos conhecidos e apreciados, trabalham nos confins da economia especulativa 

É difícil para uma marca como a Ferrero lidar com réplicas dos seus produtos?

As marcas e os produtos do Grupo Ferrero são únicos e icónicos. Temos feito uma aposta contínua em trazer novidades para o mercado e ligadas a diferentes épocas do ano, com a adaptabilidade e a versatilidade que temos, conseguimos adaptamo-nos às mudanças que percebemos no consumo de uma forma ergonómica e confortável. Não temos dúvidas de que os nossos produtos continuarão a ser icónicos, seja qual for o ano, geração após geração.

Produtos de marca criam valor para todo o sistema económico. Geram riquezas que são partilhadas entre todos os atores da cadeia. Aqueles que se dedicam a produzir e comercializar ‘pseudo-réplicas’ de produtos conhecidos e apreciados, trabalham nos confins da economia especulativa com pouca ou nenhuma geração de riqueza para o sistema.

Nos últimos meses, a Ferrero lançou gelados. Esta é uma forma de contornar a sazonalidade dos produtos?

É uma forma de responder a uma necessidade do mercado que identificámos, sempre com a preocupação de garantirmos a qualidade e o sabor único dos nossos produtos, com o objetivo de correspondermos às expetativas dos nossos consumidores. Desde que lançámos em 2021 os gelados em Portugal temos tido uma excelente aceitação por parte dos consumidores e com níveis de procura muito altos, o que nos deixa muito satisfeitos com a aposta que fizemos.

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By Evelyn

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