Guterres? "Israel definiu ser decisivo que o tempo comece a 7 de outubro"

O ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, saiu em defesa do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, que tem sido criticado no rescaldo das declarações proferidas na reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a atual situação no Médio Oriente, tendo considerado que “não entendeu quem não quis entender”.

Fazendo referência ao poema ‘A Propaganda’, de Paulo Abrunhosa, Azeredo Lopes apontou, no seu espaço de comentário na CNN Portugal, que “a propaganda propaga e anda” e, neste momento, “é a isso que estamos a assistir”.

“O secretário-geral começa por dizer claríssimamente que nada pode justificar os ataques horrendos e terríveis do Hamas, depois faz aquela interlocução que referiu, e bem, que esta violência não surgiu num vácuo, e vai outra vez à dobra e deixa claro que nada pode justificar a violência. Portanto, não entendeu quem não quis entender”, contextualizou, na quarta-feira.

Perante a reação de Israel e, mais concretamente, do embaixador israelita junto das Nações Unidas, Gilad Erdan, que pediu a demissão de Guterres por, a seu ver, ter mostrado “compreensão pela campanha de assassínio em massa de crianças, mulheres e idosos”, o antigo governante lançou que esta reação “não foi nada emotiva”.

E esclareceu: “Israel fez exatamente a mesma cenografia política quando, em finais do ano passado, a Assembleia Geral decidiu por maioria submeter a questão da ocupação de Israel ao Tribunal Internacional de Justiça. Se formos ver o tipo de expressões a roçar o insulto utilizadas pelo mesmo embaixador de Israel contra as Nações Unidas, contra a Assembleia Geral, contra o Tribunal Internacional de Justiça, desconfiamos de tanta emoção e percebemos que aquilo que está em causa é que Israel definiu que, até do ponto de vista operacional, é decisivo em termos políticos que o tempo comece a 7 de outubro.”

“Absurdo”. Governo e (quase todos os) partidos saem em defesa de Guterres

António Guterres afirmou, perante o Conselho de Segurança da ONU, que os ataques do Hamas “não vêm do nada”, declarações que levaram o governo israelita a pedir a demissão imediata do responsável. Além disso, Israel decidiu não conceder vistos a representantes da ONU. A situação levou o Governo português e várias figuras partidárias a expressar solidariedade para com o também antigo primeiro-ministro. Já IL e Chega partilharam uma posição contrária.

Carmen Guilherme com Lusa | 16:14 – 25/10/2023

Além de ter dito que “o tempo, realmente, foi terrível a 7 de outubro, e que nada poderá justificar isso”, Guterres estabeleceu, na ótica do antigo ministro, “uma distinção de que poucos falam”. Isto porque “uma coisa é o Hamas, e outra coisa são os civis palestinianos”, indicou Azeredo Lopes, complementando que “não pode haver punições coletivas e, infelizmente, as coisas não andam muito bem desse ponto de vista”, já que “há cada vez há mais consenso sobre a violação grave do direito internacional humanitário que está a acontecer em Gaza”.

Salientando que os números de mortos fornecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza têm sido fidedignos ao longo dos anos, o comentador lembrou que “há, também, a questão de que 35 funcionários da ONU” morreram, até ao momento, como sequência do conflito. “Portanto, é só extrapolar um pouco para se perceber a catástrofe humanitária que está a acontecer.”

“Quando Israel diz que não vai dar mais vistos, tenho imensa pena. Continuo a acreditar que Israel tem o direito de se defender, mas com este tipo de aproveitamentos está, pouco a pouco, a esboroar o capital político de empatia que era quase universal”, disse ainda.

E rematou: “Se consideramos que aquilo que criticamos duramente à Federação Russa no que está a fazer e no que já fez na Ucrânia, não podemos, perante comportamentos similares que estão a acontecer em Gaza, dizer que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.”

Sublinhe-se que, depois do ataque surpresa do Hamas contra o território israelita, sob o nome ‘Tempestade al-Aqsa’, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações daquele grupo armado na Faixa de Gaza, numa operação que denominou ‘Espadas de Ferro’.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está “em guerra” com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).

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By Evelyn

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