A Promotoria de Justiça de Altinópolis denunciou, nesta segunda-feira (25), o homem que realizou um treinamento irregular na gruta Duas Bocas, situada em uma fazenda do município. Nove pessoas morreram na ocasião, em virtude do desmoronamento de parte do teto e de uma parede da gruta. Caso a denúncia seja aceita nos moldes propostos por membro do Ministério Público de São Paulo, o acusado responderá por nove homicídios culposos (sem intenção).
O denunciado é proprietário de uma empresa dedicada a treinamentos e serviços em segurança, sendo conhecido por organizar cursos para formação e aperfeiçoamento de bombeiros civis. Em outubro de 2021, ele passou a divulgar curso de busca e salvamento dentro da gruta Duas Bocas, mas a atividade não poderia ter acontecido no formato definido.
De acordo com a denúncia, cursos e treinamentos em ambientes externos somente podem ocorrer em local seguro e controlado, assegurando-se o fornecimento de EPI (Equipamentos de Proteção Individual) a todos os participantes. A empresa não forneceu sequer capacetes a todos os inscritos, que precisavam fazer rodízio para usar os equipamentos.
Além disso, qualquer espécie de instrução e treinamento no interior da gruta Duas Bocas era contraindicada, tendo em vista sua formação de arenito, estrutura geológica mais frágil e sujeita à perda de estabilização e desmoronamentos.
Chuvas intensas começaram durante o curso, e o grupo foi orientado a passar a noite dentro da gruta, mas parte dos alunos acabou sendo soterrado após o desmoronamento. “A negligência do denunciado consistiu em autorizar a realização do curso sem observar as normas técnicas cabíveis e as medidas de precaução necessárias para garantir a segurança de todos os participantes”, diz a Promotoria na denúncia.
A Gruta Duas Bocas, localizada na cidade de Altinópolis, no interior de São Paulo, cuja parte superior caiu, já registrou outros deslizamentos de terra. No sábado (30), dez bombeiros ficaram soterrados e somente um corpo foi retirado com vida. O prefeito do município, José Roberto Ferracin Marques, classificou a queda como a maior tragédia da história da cidade.
No dia 1° de novembeo de 2021, policiais militares boquearam o acesso ao local do desmoronamento por segurança. Por conta da forte chuva, que dificultou o trabalho de buscas pelas vítimas, a operação de resgate dos corpos terminou após 18 horas de trabalho. Foram 75 homens e mulheres dos Bombeiros que participaram das buscas pelos 10 corpos de bombeiros civis soterrados.
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A caverna é grande e já havia registrado outros deslizamentos em anos anteriores. “A gruta é feita de arenito, material que facilita desmoronamentos”, explicou Marcelo Gramani, geólogo que deu apoio técnico às equipes. “O mau tempo também contribuiu para o desmoronamento. em muitos casos essas quedas são repetinas, em segundos a estrutura pode cair. A chuva transforma a rocha dura em uma areia semelhante à de praia.”
O caso foi registrado na delegacia de Altinópolis e vítimas e testemunhas foram ouvidas para a investigação. O velório coletivo foi realizado na cidade de Batatais. A prefeitura de Altinópolis decretou luto oficial na cidade.
O grupo de bombeiros saíram no sábado para fazer um treinamento em áreas de risco. O sócio de Celso Galina, que oferecia o curso, disse que a gruta foi avaliada como segura.
*Estagiária sob supervisão de Letícia Dauer