O júri, composto só por mulheres, escolheu a vencedora por nove votos contra três, deixando para trás os outros quatro finalistas: ‘La Foudre’, de Pierric Bailly (P.O.L.), ‘A ma soeur et unique’, de Guy Boley (Grasset), ‘Marchands de sable’, de Agnès Mathieu-Daudé (Flammarion), e ‘Veiller sur elle’, de Jean-Baptiste Andrea (L’Iconoclaste).

O prémio Fémina foi atribuído na véspera de ser conhecido o vencedor do Goncourt, de que Neige Sinno é também finalista, tal como do Prémio Médicis.

Esta premiação poderá influenciar o júri do Prémio Goncourt que, desde 2021, tem uma política de não distinguir livros que já tenham ganhado prémios.

Segundo o jornal Le Figaro, até há alguns meses, o nome de Neige Sinno não significava nada para ninguém, mas desde a publicação do seu romance “Triste Tigre” a autora impôs-se como o fenómeno da nova época literária, pelo seu sucesso tanto junto do público como da crítica.

A 02 de novembro, segundo o jornal L’Obs, o livro já tinha sido reeditado cinco vezes e tinha vendido cerca de 50.000 exemplares. Além disso, já arrecadou vários prémios, entre os quais do Le Monde e do Les Inrockuptibles.

No discurso de aceitação do Prémio Femina, entregue no museu Carnavalet, em Paris, Neige Sinno afirmou que o seu “livro não é sobre mulheres, homens ou qualquer outra coisa”, e acrescentou que “é uma fonte de orgulho ser encorajada”.

‘Triste Tigre’ não é belo, terno, nem comovente, é “perfeitamente justo”, descreve o Le Figaro, acrescentando que não se trata de um romance, na medida em que não corresponde verdadeiramente à definição convencionada, mas sim de “uma narrativa, uma autópsia, um ensaio e uma confissão”, que “resiste à categorização e transborda das caixas”.

Em 1983, Neige Sinno tinha 6 anos e o seu padrasto, que tinha 24, dizia querer amá-la como se fosse a própria filha, mas Neige recusa-se a tratá-lo por pai, porque já tem um, e resiste-lhe. Uma noite, este homem, descrito como alto, forte e brutal, junta-se a ela na cama e ela não ousa resistir. A noite duraria oito anos.

“Neige Sinno escreve sobre o incesto sem poesia ou ‘voyeurismo’. Poderia ter descrito o violador no seu quarto, os gestos, a violência. Preferiu não o fazer – exceto uma vez, e a cena é indescritível”, escreve o jornal.

“Não escrevi este romance como uma provocação, mas como um desafio: ousar pensar, ousar refletir, ousar dizer”, explicou a autora ao Le Figaro, acrescentando: “Mesmo que eu não soubesse com quem estava a falar, espero que o leitor que criei no meu texto e que existe hoje se atreva a pensar, a pôr ideias a funcionar, a fazer observações e levantar questões. Quando ouço alguém dizer-me ‘fiz algumas perguntas a mim próprio’, fico feliz”.

Neige Sinno tem 46 anos e vive e ensina no México. É autora de ‘La vie des rats’, uma coletânea de 12 contos, e de um romance, “Le Camion”.

O prémio Femina para romances estrangeiros foi para a autora norte-americana Louise Erdrich, por ‘La Sentence’. Esta escritora tem alguns livros publicados em Portugal, como ‘A Casa Redonda’ e ‘Vida de Sombras’.

A escritora portuguesa Lídia Jorge esteve nomeada para este prémio, com o seu mais recente romance, “Misericórdia”, tendo sido a única portuguesa entre os 17 candidatos na categoria de melhor romance estrangeiro publicado em França.

O prémio Femina para ensaios foi atribuído ao professor e investigador francês especialista nas relações entre a Europa e o Médio Oriente Hugo Micheron, com ‘La Colère et l’oubli’.

No ano passado, o Prémio Femina distinguiu a artista e romancista francesa Claudie Hunzinger pelo romance ‘Un chien à ma table’.

O Prémio Femina foi criado em 1904 por 22 colaboradores da revista feminina La Vie Heureuse, em oposição ao Prémio Goncourt, que consagrava exclusivamente homens.

Em 1985, foi criado o Prémio Femina Étranger, que já distinguiu autores como Javier Marias, Antonio Muñoz Molina, Richard Ford, Sofi Oksanen, Ian McEwan, Julian Barnes, Joyce Carol Oates, Manuel Vilas e Deborah Levy.

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